10 julho 2021

Dança desconexa (11/07/2011)

No escuro, depois da alegria pelo canto dos mestres, procurava algum motivo para ainda estar ali: não achei. Só via corpos que se aproximavam, se tocavam, se enlaçavam, viravam somente um... Corpos alheios a mim e a minha obsoleta presença no recinto. Em meio a sons frenéticos, eu percebia altas gargalhadas pouco convidativas e via os conhecidos deixarem de ser os mesmos: passavam a fazer parte da enorme quantidade de rostos ignotos que se moviam num ritmo incompreensível. Então resolvi mergulhar em mim, a única "coisa" que eu tinha certeza da lucidez - ou do contrário - naquela confusão, onde espaços interpessoais mínimos, pressupostos para a sobrevivência sem caos, eram desrespeitados.
Aquele ambiente me angustiava; o balançar dos corpos me dava náuseas; a Música nem música era e também contribuía para minha sensação de não caber ali; quem me olhava, não me via; quem me via e notava meu desespero, fingia estar tudo bem, - só mais uma pessoa deslocada em uma festa, pensavam. Quem dera fosse só isso!
Os Ponteiros, inimigos de quem quer fugir, eram carrascos e me encaravam do alto do relógio mais próximo. As Horas me arrastavam pelos braços para mais longe da saída... O Álcool era a única coisa que me iludia, ao menos! Sua companhia me fazia sonhar que girava a maçaneta, me esgueirava pela porta e corria, livre, por uma rua desconhecida, num fim de tarde abafado. Mas a Realidade tinha pouca compaixão e me sacudia sempre que eu fechava os olhos e, por segundos, tentava desviar meus pensamentos do impropério que era estar ali. 
O Frio do ambiente entrava em confronto com o Calor dos corpos que se remexiam na penumbra misturada com a Luz que oscilava, em dúvida, se queria ou não continuar testemunhando meu penar. E eu assistia a este enfrentamento com olhos ébrios e sonolentos. Mãos me puxavam para o meio da pista de dança, para o ringue de luta, para o matadouro de almas sãs, quando finalmente a Luz, decidiu-se por clarear as expressões sobrepostas de cada face: por milagre, todos foram levados pelo Vento forte que entrava pelo portal das despedidas.
Um ritual de espera pelo amanhecer iniciava-se naquele instante e a Noite também resolveu dançar. Uma valsa solo, ao som de uma melodia que só ela ouvia - ou fingia ouvir, somente para fazer pouco de mim e de minha pouca sensibilidade aos seus movimentos.
Exausta, me sentei no chão varrido e gelado e abracei a Solidão silenciosa que já me ofertava um manto. Então tudo voltava a sua normalidade: nos braços da Solidão, eu recusava o convite da deusa Nyx para dançar com ela, antes de seu derradeiro sumiço. Em minha mente, eu suplicava pelo fim daquela dança! A Solidão já me embalava. Talvez tenha embalado o tempo todo, sem que eu sentisse. Afinal, a Solidão nunca precisou de um quarto escuro pra fazer brigada do lado esquerdo da minha caixa torácica... 

2 comentários:

  1. e eu me surpreendo cada vez mais com a tua sensibilidade em dar vida as palavras, dar morte a angustia... ressuscitar uns e outros sentimentos, umas e outras solidões.

    É perfeito o teu coração poeta *-*

    ResponderExcluir
  2. O teu é mais perfeito, meu Fil... e me inspira!

    ResponderExcluir