19 julho 2021

Escrevendo seu nome: assinatura


Sua ausência já deixou de motivar e ofuscar cada linha do que eu escrevia. Hoje, minha poesia é muito mais que um pedido de socorro: ela é o socorro que finalmente chegou. O sol de novos dias, novas paisagens, não se deixa mais cobrir por nuvens minúsculas, mesquinhas. Seu nome, sua boca e até sua beleza são pequenos demais para enclausurar meus versos libertos: tenho esbanjado tempo sendo meu próprio espelho.
Estações quentes e coloridas chegaram e me obrigaram a reivindicar o retorno do meu sangue às veias. Sem pesar, incinerei o papel celofane guardado e aposentei a velha máquina de escrever porque aprendi a apreciar os movimentos de minha mão enquanto grafa as letras  - assino meu próprio nome em todo tipo de papel, com toda espécie de tinta. A luz dos olhos se acende, o sol nasce e, sim, mais um dia nasce e meus dedos se enrolam em outros cabelos, percorrem outra pele.
Não me arrependo de ter deixado sua roupa lavada, com cheiro de rosas, de ter  comprado suas rosquinhas favoritas ou de ter deixado próxima aquela revista sem graça que você folheava à tardinha. Tudo isso foi uma comprovação fundamental. Uma comprovação de que  meu peito sabe amar à revelia da rotina e do cansaço.
Não sei se foi obra de algum deus piedoso,  mas nosso encontro nunca mais se alinhou. Sigo avessa à religião e cada vez mais em fuga da Morte - mais vale a vida sem poréns, sem espera.
E se você algum dia voltar, saiba que sua ausência já deixou de motivar e ofuscar cada linha do que eu escrevia. Meu peito, hoje, ainda é um poema, mas que jamais se repete, não cabe nos versos, contesta as rimas - assino meu próprio nome em todo tipo de papel, com toda espécie de tinta... por todo o meu corpo. Sou, enfim, compositora, senhora e propriedade de mim mesma: assino e atesto.

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