07 julho 2021

fogo e saudade (08/07/2011)

o vazio já é companhia constante. o eco de passos ao longe e de vozes desconexas na tv me enlouquecem. o espaço que se formou entre eu e as cortinas fechadas do meu quarto a cada dia aumenta. não tenho dores, sinto somente meus pés dormentes e uma leve pontada na nuca. creio que o café já tenha esfriado e o cigarro apagado depois das três horas ou mais que ficaram caídos no chão. de vez em quando, luzes estranhas invadem o quarto pelas frestas da janela e iluminam o porta-retrato com a foto dela, na cômoda. nessas horas, sim, dói! nunca um sorriso me fez tão mal quanto o dela; nunca sua alegria, antes tão festejada por mim, me machucou deste modo; nunca tantas lágrimas verteram por meus olhos... a presença dela é instaurada, por esta fotografia, no canto do quarto: ela me olha de um jeito cúmplice. sua boca se move, como se ideias  escapulissem por ela, mas nenhum som chega a meus ouvidos. é desesperador querer ouvir a voz dela em meio a penumbra e ver somente o movimento de seus lábios mudos! e então ela se dissolve nas sombras, mistura-se à escuridão, some envolta ao pó do quarto e me deixa só, como de costume.a poeira que fica no ar ainda guarda sua silhueta, o espectro luminoso que ela deixa, pairando no nada, me faz procurá-la inteira...
Imagens oníricas se confundem com imagens reais num misto de sofreguidão e disparates. a mão dela percorre a minha, num surto de sensações longínquas que me acometem, e sinto seu perfume feito um louco invadir minhas narinas sensíveis à poeira.
já não me sinto aqui, nem em parte alguma, queria estar contigo, onde quer que fosse, queria você, é pedir muito?
mas já não me sinto aqui... talvez eu já nem seja nada. uma sombra do que fui enquanto era dela, no máximo.
agora, voltando do estado de delírios, vejo que a poeira já se assentou e nada tem de luminosa. meu rosto arde pelo choro e pela alergia, meu queixo bate pelo frio, - as cobertas restam esquecidas na cama.
sofrer nunca adiantou: ela nunca volta, o frio nunca passa, a paz nunca se restitui, a paz ela levou. ela é minha paz...
e que nada, nunca, macule o peito dela assim. só fogo machuca desta forma. fogo e saudade.

2 comentários:

  1. Anônimo8/7/11 03:29

    #_#

    Já virei leitor fiel!!!

    Parabéns!!!

    :D

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