18 julho 2021

Escrevendo seu nome (19/07/2011)

Sua ausência ensombra cada linha que escrevo. Torna mal iluminada minha força de te transformar em poesia e enaltecer sua beleza em meus versos. Sua boca, em formato de adeus, encobre o sol, como nuvem carregada, e me faz dirigir aos céus meus olhos apaixonados, que de nada serviriam se não fossem espelho seu.
Tudo que penso ou falo faz esquina com amor que te entreguei, embalado em papel celofane vermelho sangue - muito mais de hemácias do que de corante.
O som ensurdecedor de seus passos deixando meu peito é o que me acorda nas manhãs nubladas deste outono cinza e o que imito, com as teclas da velha máquina de escrever - escrevendo seu nome até sem papel, até sem tinta. A luz dos olhos se apaga, o sol se põe e, sim, mais um dia se acaba sem que meus dedos se enrolem em teus cabelos, percorram tua pele.
E mesmo tendo deixado sua roupa lavada, com cheiro de rosas, mesmo tendo comprado suas rosquinhas favoritas, mesmo tendo deixado próxima aquela revista sem graça que você folheia à tardinha, nada bastou. Você carregou nosso amor, nossa rotina, pra longe do meu peito cansado de sofrer.
Qualquer deus havia de ter piedade! Até religiosa me tornaria, sem ira ou má vontade, se esse um ser divino me ouvisse e alinhasse novamente o nosso encontro! Mas o Desespero e a Solidão são quem me escutam e cochicham entre si, a pé de mim, que a Morte, sim, não abandona, que ela fica, e que eu fique com ela - mas de que me vale a Morte, se ela não tem seu nome, seu cheiro, sua presença? Mais vale a vida esperando sua volta.
Mas se você não voltar, saiba que sua ausência ensombra cada linha que escrevo e faz do meu peito um poema repetitivo, no qual tudo rima com saudade - escrevi seu nome até sem papel, até sem tinta... até sem você.

4 comentários:

  1. E é nessas dores de parir dores que nos perdemos, no lamentar de amores, que se foram e de nós levaram uns fragmentos de felicidade...

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  2. Obrigada pelos comments, meus amores! Me faz querer escrever mais e mais e mais... Principalmente vindo dos dois maiores poetas que conheço, pessoalmente! Igor e Fil: Meus aedos!

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  3. Esse amor imensurável que não conseguimos controlar dentro de nós mesmos...

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